Imagine a seguinte cena: depois da morte do pai, um jovem herdeiro (homem, branco e de apenas 26 anos), assume a posição de CEO de uma das principais companhias de planos de saúde do Brasil e um patrimônio de 8 bilhões de reais em ações e investimentos.
Acredito que não seja difícil de imaginar esse contexto, certo? E se eu te disser que esse mesmo jovem, além de todas as características que citei anteriormente, também é gay e casado? Você ficaria surpreso?
Essa é a história do Pedro de Godoy Bueno, que há alguns anos assumiu o controle da Amil, empresa brasileira de assistência médica, após seu pai morrer de um ataque fulminante enquanto jogava uma partida de tênis. Você deve estar se perguntando: “beleza, mas onde você quer chegar com todo esse contexto?”
Calma, que eu vou explicar!
Acabamos de sair de junho, o Mês do Orgulho LGBTQIA+. Durante os últimos 30 dias, pudemos ver empresas e produtores de conteúdos darem visibilidade para que inúmeros profissionais da nossa comunidade defendessem e falassem sobre a causa. E isso é ótimo!
Contudo, existe uma tendência no mercado que limita profissionais LGBTQIA+ a falar somente sobre questões sociais e de gênero. Assim, se esquecem que existe vida além da militância e que essas mesmas pessoas também são plenamente capazes de falar sobre marketing, vendas, business, gestão e vários outros assuntos.
Neste post, eu vou explicar como continuar trabalhando a diversidade e a inclusão na sua rotina, sem diretamente abordar essas questões. Ficou curioso? Então, continua a leitura até o final e não esquece de deixar seus comentários para enriquecer ainda mais a nossa discussão!
Uma forma diferente de abordar a diversidade
Trocadilhos à parte, falar sobre questões de gênero pode ser bastante complexo e delicado, mas essa não é a única forma de você trabalhar a diversidade em seus conteúdos. O simples fato de você trazer pessoas com backgrounds e experiências diversas para falar sobre determinado tema já é uma alternativa para ser mais inclusivo.
Isso vale para qualquer assunto, esteja ele relacionado ou não com a temática LGBTQIA+. Separei um checklist com três ações práticas para você começar aplicar os conceitos que irei apresentar:
Seja intencional
Uma vez que entendemos que a bagagem da realidade de uma pessoa de fora da hetero-cis-normatividade pode trazer uma perspectiva diferente para as discussões, abrimos novas possibilidades de ações. Elas não necessariamente estão relacionadas com as questões sociais e/ou de gênero que aquela pessoa possui.
Nesse sentido, a busca por ter mais pessoas diversas em nossas rodas de conversa passa a ser intencional, como um pré-requisito básico para a construção de pensamentos mais inovadores e fora do padrão.
Por exemplo: os desafios que uma mulher empreendedora, lésbica e negra teve que superar para conquistar o sucesso são completamente diferentes dos desafios de um empreendedor homem, hétero e branco.
Isso não significa que as ações tomadas pela mulher (lésbica e negra) empreendedora não possam servir de boas práticas para pessoas que estão começando a empreender. Pelo contrário: a condição dela permitiu o desenvolvimento de habilidades que a gente dificilmente iria encontrar dentro de uma roda de conversa formada majoritariamente por pessoas hétero-cis-normativas, fazendo com que a fala dela agregue muito mais valor à discussão.
Desconstrua estereótipos
Todos os dias somos condicionados a ver estereótipos que nos limitam a olhar para o que é diverso e enxergar somente uma única coisa. É comum vermos gays atuando como cabeleireiros ou sendo alívio cômico em produções de TV, por exemplo.
Isso cria uma falsa sensação de que aquela é a única possibilidade possível para os membros da comunidade LGBTQIA+. O mesmo acontece com pessoas negras, que na maioria das vezes são retratadas como zeladoras, domésticas ou seguranças – e isso precisa mudar!
Ao evidenciar e priorizar a fala das minorias em assuntos diferentes do que estamos acostumados a ver (como business, gestão, marketing, vendas, etc), você contribui para uma desconstrução desse estereótipo dentro e fora do meio profissional.
Isso porque se torna claro que existem outras possibilidades para a nossa comunidade além daquelas que estamos acostumados a ver na grande mídia. O impacto disso na vida de jovens e crianças pode ser transformador.
Dê o primeiro passo
Ter em mente que o mínimo que você fizer já é mais do que muita gente faz é um bom ponto de partida para destravar algumas das iniciativas que citei ao longo deste texto. Nos condicionar a olhar para o diverso é uma mudança de hábito e leva tempo. Por isso, é super normal que você passe por tentativas e erros!
Contudo, é importante deixar claro que, enquanto você está no processo de desconstrução, pessoas reais aqui fora estão perdendo oportunidades, sofrendo com o preconceito e sendo vítimas de uma sociedade pouco inclusiva. Pensar nisso e entender que você pode ser um fator de mudança dessa realidade pode contribuir para uma aceleração no seu processo.
Denis Braguini Bevacqua, diretor de Eventos da RD, palestra no RD Summit – Foto: Caio Graça
Vamos conversar?
Pessoas LGBTQIA+ também podem ser especialistas em diversos assuntos e continuam disponíveis para serem convidadas a falar sobre eles, para além do mês do orgulho.
Ser intencional sobre esses convites contribui para trazer mais diversidade para outras pautas relevantes que costumamos abordar e estudar no nosso dia a dia. Além disso, ajuda a torná-las representativas para a sociedade em geral.
Para finalizar, deixo claro aqui que sou gay, e uma das coisas que mais amo fazer (além de falar sobre diversidade e inclusão) é trocar figurinhas sobre desenvolvimento pessoal e profissional, capacitação corporativa e estratégias para canais. Então, se quiser um dia bater um papo sobre esses temas, pode me procurar no LinkedIn! :)